Mamã, dá licença?

Quando se trata de traçar prioridades, não tenho nenhuma dúvida de que os miúdos vêm primeiro. Simples assim, sem hesitar.
Sou enfermeira há cerca de 10 anos, papel que juntei ao papel de mãe há 6. Não vou descrever aqui o quão difícil é ser-se enfermeira no que diz respeito à conciliação com a vida familiar. Ser enfermeira é por si só duro, ser enfermeira e mãe é todo um outro patamar de dificuldade, e ou se equilibra muito bem, ou certamente, um dos pratos vai ficar mais pesado.
Tenho a mania quase estúpida de que se é pra me meter nalguma coisa, ou sai uma obra prima ou então não faço, pelo que assim que percebi que não estava a dar tudo o que podia no meu papel de mãe, deixei a enfermagem para segundo plano.
Ser enfermeira é uma das coisas que mais gosto de fazer na vida, mas a ser em pleno. Sem acordar a meio da noite a pensar em coisas que não deixei feitas, registadas ou faladas, porque saí à pressa, a meio do turno ou porque simplesmente não pude ir trabalhar. Porque ser enfermeira não é ser metade, não é sentir pela metade, nem estar pela metade.
E porque não me era justo ser só meia enfermeira, menos justo era ser só meia mãe. Quando comecei a sentir que não estava a conseguir ser todos os papéis em pleno, decidi que o melhor dos investimentos era o tempo dispensado aos miúdos, e acompanhá-los passou a ser a minha prioridade.
Estou de licença do trabalho. De licença do tempo voador, das corridas desenfreadas contra o relógio, da depressão pela incapacidade e da culpa. Não, a licença não é férias. Esforço-me todos os dias, porque tenho toda uma agenda a cumprir. Esta é uma licença de acompanhamento, porque eles precisam de mim todos os dias, e porque eu preciso de estar bem para eles, todos os dias.
Estou de licença porque decidi que o maior investimento tem que ser a disponibilidade que lhes devo desde o dia em que os conheci, e porque decidi que o desespero não é maior do que a minha resiliência. Estou de licença do trabalho, não da vida nem da luta. A essas nunca pedirei licença. Estarei por aqui, sempre!



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