Poucas são as vezes que vou buscar o miúdo à escolinha. Ultimamente tem sido uma tarefa do pai, e eu até agradeço porque ao fim do dia, já costumo estar de rastos e poupa-me uma caminhada com a miúda às costas. Não significa que não goste de o fazer, pelo contrário! Sempre que o vou buscar, fico um bocadinho, meia escondida a observa-lo. O Gui é um miúdo extremamente tímido e vê-lo ali, no seu mundo deixa-me encantada. Há toda uma interacção com os amiguinhos e com o pessoal que tão bem toma conta deles. E há correrias e apanhadas, e bolas e saltos. E tantas gargalhadas e sussuros ao ouvido! Também há caretas, bochechas rosadas e sorrisos rasgados. E trambolhões e joelhos arranhados e empurrões, porque é mesmo assim quando muitos miúdos se juntam. Um dia dão, e no outro apanham, porque um dia é da caça e outro é do caçador. 

Ontem, quando o fui buscar estava a chorar e não é preciso muito para o pôr a chorar. Mas chorar  mesmo a sério com fungadelas e tudo, e lágrimas roliças a escorrerem-lhe pela cara. Parece que foi uma disputa de bola que não lhe correu muito bem e o que o deixou mais incomodado, foi o amigo não lhe ter pedido desculpa. Ele pede sempre desculpa e leva isso mesmo a sério!

A mim, incomodou-me não o ver, como quase sempre, a correr por todo o lado e de sorriso rasgado.  E quando já estava mais calmo, lá tentei dar a volta à coisa, explicando que quando voltasse à escolinha, podia dizer ao amigo que pedir desculpa é importante e que tinha ficado triste por isso.  Achava eu, que estava a ser subtil na minha vontade de saltar para o recreio e rosnar ao pessoal todo, pegar nele e ir lambe-lo para um sitio qualquer, tal mãe leoa. A verdade é que a minha subtileza é igual à de uma mãe elefante e no fim daquela conversa toda ouço isto:

-Mãe, tu és feroz. Eu acho que se tu lutasses contra o sol eras capaz de ganhar!

E era mesmo, por vocês, era mesmo. A questão é que se quero fazer a coisa bem feita tenho que ficar na retaguarda a ver-vos correr atrás das bolas, disputa-las e levar umas boladas de vez em quando. O importante é irem marcando os vossos golos, e eu estarei por cá para vos ensinar a rosnar aos guarda-redes!

A miúda não gosta de chucha. Não gosta pronto! E olhem que tenho um arraial de chuchas cá em casa. Elas são rosas, roxas, verdes e transparentes, são de silicone ou de latex, são de todos os formatos possíveis e imagináveis e umas até, segundo os entendidos, iguais ao formato dos mamilos, embora eu me recuse a acreditar que os meus mamilos tenham aquela forma!! Enfim, isto para dizer que a garota se recusa a ficar com aquela coisa na boca e quanto mais insisto mais grita. Puxa o vómito, engasga-se... E no entretanto fica rabugenta, passa do choro aos gritos desalmados e já não há mais nada que a acalme senão a bela da mama na boca, que de bela não tem nada que daqui a pouco já nem se vê! 

A sensação que tenho é que ainda há-de descobrir um mecanismo de auto-consolo, e até lá parece-me que eu é que preciso de chucha para ver se me acalmo... 

Ainda há pouco tempo me disseram que os segundos filhos são mais travessos... Lá está!

OMG! Acabei de ouvir o genérico do Inspector Gadget contemporâreo e já nada tem a ver com o mítico genérico, que para mim, é o original da série (não sei se existirá algum mais antigo, anterior ao que eu via em miúda). O que é que aconteceu àquele "tantarantaran Inspector Gadget, tantarantaran tantan..."?? Era a minha parte preferida do episódio todo!! De quem terá sido a ideia peregrina?? Acabaram de arruinar um best seller dos genéricos infantis do meu imaginário... É que não se faz.. BANDIDOS!!

 

Já lá vão umas semanas grandes desde que comprei o último livro. Regra geral acabava de os ler em três tempos, mas desde que a garota nasceu tem sido complicado ter concentração e tempo para grandes leituras. Estou agora nas últimas páginas do Os bebés também querem dormir, da autora Constança Cordeiro Ferreira, que comprei na esperança que depois de o terminar de ler, a miúda dormisse assim que eu estalasse os dedos, ou então que já tivesse 25 anos e já dormisse na casa dela, dado já ter a certeza que iria demorar uma eternidade de tempo a lê-lo!

Bem, isto para dizer que não, o livro não ensina a garotada a dormir com um estalar de dedos, nem aos pais, para grande pena minha. Também não ensina onde é que eles têm o botão de desligar escondido. Não ensina nenhuma canção de embalar mágica, pelo menos que eu tenha dado conta...E também não segue propriamente um método infalível de adormecimento infantil.

O livro, que é de escrita leve e fácil leitura ensina antes a olhar para os miúdos de um outro prisma, mesmo que já não os possamos ouvir, depois de 3 horas de choro seguidas. Ensina à introspeção daquilo que tomamos como certo e a pôr em causa aquilo que nos tentam dar como certo, nesta aventura que é ver os miúdos crescer. Tem conselhos, tem opiniões e tem factos científicos. Tem um pouco de nós espelhado nos outros e tem muito de nós para espelhar nos bebés. Tivesse eu demorado menos tempo a lê-lo, e ainda me faltam umas páginas para terminar, e ter-me-ia ajudado bastante nos primeiros dias com a Laura, porque a segunda viagem das mães, é sempre uma viagem nova!


 

O miúdo faz asneiras e é  repreendido. No meu tempo, no meio da fúria saía-me um "já não gosto de ti", um "já não brinco mais contigo", e claro um "és má"! Este, como arma de arremesso chuta um "já não vais à minha festa!". E é isto, fui desconvidada! A sério que este ano não tenho que descortinar um tema para a festa, nem tratar da decoração, nem tratar dos convites? Não tenho que encomendar o bolo, nem fazer compras e nem cozinhar? E também não tenho que organizar o espaço para entreter os miúdos, nem receber os graúdos? Não tenho que pôr a mesa nem repôr as bebidas? Não tenho que encher balões? Nem um?! Mas continuas a querer a festa, certo? E quem é que vai tratar de tudo? É o pai que vai tratar de tudo? A sério?! Não me parece...
Miúdo, tu devias era ter pensado duas vezes antes de me desconvidares... É que agora que penso nisto, ainda vais é ter que me pagar muito bem para eu ir à tua festa... Temos pena!

Adoptei a expressão "Sim e tu?", não literal, quando ainda estava grávida. Sempre que uma ave rara desconhecida, invadia o meu espaço e decidia pousar uma patinha na minha barriga, uma das minhas mãos pousava também, automaticamente, na barriga dela:

"- Ah, mas também tens aí uma bela barriga!"

A pessoa sentia-se incomodada, entendia a mensagem e, pelo menos comigo, não repetia.

Agora que a miúda já está cá fora, o nosso espaço é também muitas vezes invadido. Ora por toques indesejáveis e não autorizados, ora por questões que só a nós nos dizem respeito e que sinceramente, não consigo entender qual é o objectivo de quem as coloca. Volta e meia, e quando a paciência já não abunda, lá me sai um "- Sim e tu?". É do género :

- Então e ela dorme a noite toda?
- Sim, e tu?

- Então e faz bem cocó?
- Sim, e tu?

- Então e pega bem na mama?
- Sim, e tu?

- E adormece na cama dela?
- Sim e tu?

- Está a aumentar bem de peso?
- Sim, e tu?

Infalível, a pessoa entende e, volto a dizer, pelo menos comigo, não repete! Se tiver dois dedos de testa, é claro!

E um dia, a vida dá-me limões. Um saco grande, cheio deles, bem amarelos e cheirosos. Obviamente resmunguei. Para que raio quero eu tantos limões? Limões?? A sério?! Eu não quero limões. Quero chocolate, framboesas, leite condensado e merengue. Quero uma tardada descomprometida de sol na esplanada. Um par de sapatos novos, definitivamente, um par de sapatos novos... Quero um jantar com amigos, gargalhadas e um copo de um bom vinho tinto... Limões?! Limões não quero! E o que é que eu faço a isto?! Primeiro demorei tempo a arranjar espaço para um saco tão grande e depois arrumei-o num canto. Talvez não fosse o melhor lugar porque de vez em quando, tropeço nele e espalho uns limões pelo chão. Vou praguejando enquanto os guardo novamente, e nessa altura questiono-me sempre porque raio é que ainda não os deitei fora. É capaz de haver uma razão e um dia, um dia qualquer, ainda a descubro. Por hoje vou só até ali pesquisar umas receitas, que isto da limonada, não me convence... Limões, vida?! A sério?!

Quando era pequena a televisão não tinha comando. Ou melhor, o comando era eu ou a minha irmã, que à vez nos íamos levantando para mudar de canal. Não tinhamos assim tanta escolha, até porque só existiam dois canais... Uns anos depois e já com comando de televisão, os canais passaram a três, e na loucura chegámos aos quatro, uma verdadeira fartura... Lembro-me que via de tudo, desde a canção de abertura de emissão da Sic, até ao Padre Vitor Melíssias, que tinha uns minutos da emissão na Tvi, logo ali colados aos desenhos animados da tarde, perto da hora do lanche.

Quando era pequena a televisão não tinha assim tanta prioridade. As excepções eram os desenhos animados das manhãs/praticamente madrugadas de fim-de-semana, e a Rua Sésamo, do Caderno Diário, na RTP2 todas as tardes. Geralmente subia as escadas do meu prédio a correr para não perder um único minuto do Egas, do Becas e do Poupas Amarelo. Havia dias em que já não chegava a tempo de ouvir o genérico e, quando assim era, aproveitava avidamente os minutos que faltavam até terminar o episódio. E noutros dias, chegava mesmo no fim e já não conseguia ver nada de jeito. Não fazia mal, ficava para amanhã. Quando conseguia ver via, quando não conseguia ver paciência.

O miúdo cá de casa sabe todos os episódios de todos as séries do Disney Júnior de cor. Sabe os genéricos, as canções dos diferentes episódios, e até algumas falas de algumas personagens de cor. Sabe a programação, e calcula mais ou menos os horários das séries de que gosta mais. Não é que não tenha vida para além da televisão, que tem. Também brinca na rua, anda de bicicleta, esfola os joelhos e joga à bola. A questão é que descobriu o comando da televisão. Descobriu que pode gravar os episódios do dia e vê-los mais tarde, que pode puxar para trás os desenhos animados que estão a dar no momento para ouvir o genérico e também descobriu o botão da pausa. Ele é pausa para ir à casa-de-banho, para ir buscar uma bolacha à cozinha e para ir beber água. É pausa para ir jantar e pausa para tomar banho. E o que é pior, é carregar no botão da pausa de manhã quando vai para a escola e me deixa o aviso de que não posso mexer no comando... Pois claro que sim meu querido filho. Vou deixar ficar a televisão com os Pj Masks na pausa, com expressões faciais estranhas, só para que possas retomar o episódio quando te apetecer! 

E foi por isso que quando encontrei, meio por acaso, este art print na A Venda, sabia que tinha que o ter cá por casa. É a cara do miúdo e a expressão, ainda que com outro significado, que mais se ouve cá por casa "Pausa", "Põe na pausa", "Mãe, puseste na pausa?", "Põe na paaauuusaaaaaaa!"...

Esta loja para além de uns brinquedos vintage maravilhosos, e uns artigos de decoração muito giros tem estes art print que me enchem as medidas e não resisti a esta Frida Khalo fantástica que entretanto vai morar numa parede aqui da sala! Estou apaixonada pelos quadros e pela loja. Ah, e não é publicidade paga, é mesmo de coração!