Há mais de um ano que falava em criar um blogue, porque a vida desta pessoa dava um filme indiano. A ideia era partilhar as minhas neuras e tentar perceber, por exemplo, se haveria por aí mais alguém com dificuldade em entender o que é que move uma pessoa a aspirar a casa, em sapatos de salto agulha, às 23h de um Sábado, entre outras bizarrias. Com o passar do tempo, as partilhas foram-se diversificando e entretanto até apareceu gente para as ler. How cool is that?

Um ano depois, olhando para trás, o que é que mudou? A Ana tornou-o mais compostinho, mesmo a tempo de celebrar o aniversário. De resto? Absolutamente nada. Continuo a escrever sobre o que me apetece e, pasmem-se, sobre o que me dá nervos, quando me apetece e quando tenho tempo. Simples assim, sem pressões.

O blogue faz um ano e não há passatempos, nem prémios, nem bugigangas para oferecer. Quando chegar aos 10000 seguidores arranjo uns cafezitos numa esplanada qualquer. Até lá, há um obrigada por estarem desse lado e por já fazerem parte deste. Corajosos!

Sou apologista de que todos os dias são bons para mandar à m***a. O trânsito da manhã, a sopa que queimou no fundo da panela, a roupa que ficou por passar (sim, tenho um problema profundo com a roupa por passar) e, pasmem-se, pessoas. Todos os dias são bons. Também acho, por outro lado, que há dias especiais para esse efeito. A vida é composta por uma série, se tivermos sorte, de dias que tanto podem ser óptimos como desesperantes. É assim que funciona, uma panóplia de opções entre a excelência e a mediocridade, que acredito estarem escritos em algum lado, naquilo a que se chama destino. Podia divagar bastante sobre isto mas não é esse o caminho que quero seguir agora...

Tenho tido, volta e meia, uns dias lixados, e nesses dias não costumo ser mulher de grandes avarias. Espero que o dia acabe na esperança que o seguinte seja melhor. Contudo, também há dias lixados que exigem um bocado mais de paciência, de empenho, e de grandes fôlegos. Sim, respiro fundo, sim, esforço-me pra caraças, sim, ponho a vida a mexer. E sim, é verdade, não sou de grandes sorrisos nem de grandes expressões entusiastas! Cada um é como é, e eu não tenho, por natureza, uma expressão afável e simpática. Adiante, nesses dias, abuso do afinco, chuto a bola pra frente, empurro o mundo com a barriga, ponho a terra a mexer. Esforço-me mesmo, só eu sei o quanto! E não é que nesses dias aparece alguém e diz que não chega, que é pouco, que sabe que posso fazer muito melhor? Que sabe que sou muito melhor? Mas haverá alguém que saiba melhor do que eu quais é que são os meus limites? A sério? Epah, é que faço logo um encaminhamento certeiro. Daqueles mentais, que fui educada para ter filtro nos palavrões! Mas mando, com todas as letras (mentais), e um sorriso cínico nos lábios. E não é que me sabe pela vida? Vá-se lá entender estas coisas...

13 meses.

Ainda adormece no colo, no mimo e no quentinho do abraço. Na minha cama, que já é mais nossa.

Gostava de dizer que é sempre sem pressas e que o tempo pára, mas há um miúdo, na sala, à minha espera. Paciente, dá também do seu tempo para estes meus minutos, a sós, com a irmã. 

13 meses e ainda mama. Ainda gostamos que assim seja. Sem pressas e sem pressões, embora já sinta, por vezes, o desconforto nos outros, quando o assunto é abordado. Ainda me faz confusão, (raios partam a minha ingenuidade), que toda a gente tenha que ter uma opinião sobre tudo. E pior, verbaliza-la. Costumo responder que quando ela for para a Universidade já não deve querer adormecer aninhada a mim, e as pessoas calam-se. Gostam de respostas tortas, deve ser isso.

13 meses, quase 14, e tanto que ainda está por vir. Destes momentos nossos, só a duas, não sei quantos haverá mais. É tempo de absorver, aproveitar. No drama, just (l)ama ❤.

Tinha uma consulta às 16h. 

Estiquei-me nos afazeres até às tantas. 

Entro no carro apressada para não chegar atrasada. 

Rasgo as calças de modo a ficar com o traseiro todo de fora, logo hoje que o casaco que trago é curto e não me tapa o rabo!

Chego ao consultório com uma camisola de mangas curtas vestida e um casaco à cintura, tal adolescente a querer andar de corpinho bem feito em pleno Inverno. Graças ao Senhor pelos ares condicionados abrasadores dos gabinetes médicos!

Moral da história: ou ninguém reparou ou ninguém teve coragem para me avisar que estas não são figuras para se fazerem...

E não é que afinal correu tudo bem?

Se não aprenderes a suavizar vai doer sempre mais, disse-me um dia alguém.

Mas é suposto transformar um vermelho em rosa ou um amarelo em bege? Porquê, se existem em toda a sua força, se estão lá e se evidenciam? Um vermelho vai ser sempre um vermelho, na sua essência, mesmo que o cubra de uma camada branca para o deixar rosa. É vermelho, é primário e, a mim, faz-me doer. Doía igual se fosse rosa, verde ou azul. Não é o suavizar que o deixa mais pálido e capaz de ser suportado, é a força que ele tem que me deixa mais forte, que me faz repensar caminhos! É o fazer associações de cores, unir esforços, projectar pigmentos noutras direcções. E é a minha postura, quando assumo esta cor que faz dela uma vencedora e que me apazigua.

Eu não suavizo. Eu pinto com traços firmes, sempre, até que a tinta acabe. E nesse dia, estarei lá, a contemplar a obra. 

Esta moda da parentalidade positiva veio arruinar a aplicabilidade do segundo nome próprio dos miúdos, ou é impressão minha? A menos que a conjugação seja com "Maria" que eu cá não estou a ver ninguém aos berros com um "Afonso Maria"...

É que já não tem graça nenhuma registar a garotada com dois nomes próprios se depois, usamos só umas conversas assertivas para os pôr na ordem. De que vale ter-se um João Miguel se depois não se usa a conjugação "João Migueeelll" em tom mais áspero? 

Eu cá era só ouvir um "Cristiana Sofia" (vá, autorizo a gozar!) e punha-me logo em sentido... Os miúdos de hoje em dia nem sabem quando é que vai sair um ralhete... Modas...

Descrição das actividades de tempo livre desta senhora, porque um dia destes alguém me perguntou quais eram os meus hobbies:

- Faço 147 agachamentos, enquanto apanho do chão as almofadas do sofá;

- Treino a capacidade de actuar em público em situações constrangedoras, enquanto vou à casa de banho acompanhada;

- Estimulo a memória e as cordas vocais, graças ao facto de estar constantemente a repetir as mesmas palavras;

- Aplico uma maquilhagem minimalista que consiste basicamente em tirar as remelas dos olhos e os restos de base do dia anterior;

- Aproveito para fazer alongamentos enquanto procuro chinelos perdidos debaixo do cama.

Isto tudo, em séries de 3, 24horas por dia!

Há uns dias, ao subir de carro a minha rua, encontrei um velhote, sentado na beira do passeio. Assim como eu, mais quatro ou cinco pessoas, cada uma no seu carro,  também o viram. A meia dúzia de metros estavam dois homens armados em mecânicos de automóveis, de mãos na cintura, a olhar para outro lugar.

Parei o meu carro, ofereci-lhe ajuda. Confidenciou-me que já lá estava há largos minutos. Do tempo que demorei a levanta-lo para lhe dar boleia, dois terços foram passados a agradecer e o restante tempo a pedir desculpa pelo trabalho que me estava a dar. Mora num apartamento, dois prédios ao lado do meu, não deu trabalho absolutamente nenhum. Tem 87 anos e é uma simpatia. 

Esta moda de se parar, oferecer ajuda, ser-se útil para quem nos rodeia, fazer-se uma boa acção, é só para os de 4 patas, com ou sem chip e com coleira ao pescoço, não é? Modas... Diz são cíclicas, espero que mudem entretanto...