O que o Alentejo não me permite

Se o Alentejo me permitisse, passava a morar lá. Nós, e uma casinha pequenina de paredes caiadas e tetos baixos, com uma figueira a fazer esquina e um quadrado de relva cuidada para me estender ao sol. Um terraço luminoso com uma cama de rede, e uma piscina, ao fundo, junto ao canteiro de alfazemas. Podia ter uma casa na árvore, naquela com as maçãs amarelas, pequeninas e sumarentas, e uma oliveira que fizesse uma sombra generosa em dias de muito calor. Era uma casinha a poucos quilómetros do mar, e com um acordo de domicílio com a panificadora da terra! Mas o que não podia mesmo faltar eram as famílias de burros, cabras e ovelhas que tão bem tomam conta dos miúdos. 
Dizem que é necessária uma vila para criar uma criança, mas eu sei que me bastava um monte alentejano, como o Monte da Cascalheira, que tão bem nos acolhe ano após ano. E se o Alentejo me permitisse era para lá que me mudava. 
Contudo, em boa hora, o Alentejo, lânguido e pacifista, permite-me ficar apenas quando me sente ausente de energia e coragem, retemperando o humor e o amor, a calmaria e a força, em momentos certos, por mim tanto ansiados. E é por ser o meu refúgio, e só para ser o meu refúgio, que o Alentejo não me abre as portas permanentemente, fazendo com que a casinha perdesse a graça, as maçãs não tivessem sabor e o sol fosse demasiado quente.
O Alentejo é-me generoso, e eu não sei se alguma vez lhe poderei agradecer da mesma maneira.











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