Mãe, a culpa não é tua!

Mãe, a culpa não é tua!

Tu geraste uma vida, fizeste-a nascer, alimentaste e protegeste o teu filho, tal como a Natureza te ensinou. Fizeste tudo bem!
Olhaste para ele, e com os teus olhos românticos, não identificaste à primeira vista, o que o teu instinto te tentou mostrar. E repara, não tinhas que o fazer! Não de forma imediata, e não de um modo clinicamente neutro. Havia alguma coisa diferente do que tinhas imaginado, mas a anestesia do amor que estavas a sentir não te deixou perceber. E não faz mal!
Quando a dúvida começou a surgir, perguntaste, mostraste, valorizaste. E foste doida, porque só tu é que viste, ou sentiste, ou intuiste. Foste a louca exagerada, a que precisava de descansar, de dormir, de férias. Tu sabias que alguma coisa não estava certa e explicaste-a, mesmo que à tua maneira. Ninguém te apoiou, e a culpa não foi tua!
Entretanto, e porque não desistes, há alguém que aceita, condescendentemente, sentar-se, olhar para o teu filho com olhos que cuidam e descansar-te, porque afinal, de certeza que não se passa nada. Só que passa. Só que afinal não estás doida e a tua intuição, ainda que atabalhoada porque não consegues pôr em palavras aquilo que sentes, não estava errada. E a culpa de terem demorado tanto tempo a valorizar as tuas dúvidas não é tua. Tu fizeste tudo bem, sabias?
E depois já tudo flui, já há mais pessoas à tua volta, já não estás sozinha. De repente aparecem olhos daqueles que cuidam a sério, aos montões, braços que te recebem, portas que se abrem de todos os lados, mas na verdade, ainda te sentes sozinha e ninguém valorizou o esforço que fizeste para chegar ali. Não há ninguém que te peça desculpa por não te ter ouvido com atenção, e por se ter perdido tanto tempo. E não faz mal, porque isso nem ia alterar nada. Ou então ia, porque talvez te fosse ajudar a restaurar a tua confiança. Ou também, porque talvez te fosse cimentar a ideia de que foste incansável e que fizeste tudo bem! Nunca saberás e não faz mal, pois não? Porque tu Mãe, tu és de ferro e a culpa não é tua!
Bem, já andas há anos nisto. Batalhas duramente todos os dias. O que te difere a ti, e ao teu filho, é o que vos torna mais bonitos e aprendes isso diariamente. Agora olhas para trás, identificas todo o caminho que já percorreste e as lágrimas que já deixaste escorrer e que tanto orgulho te dão! Afinal já lutaste mais nestes últimos tempos do que o Ranger do Texas, a vida toda e sabes uma coisa? Fizeste tudo bem, nada disso que te e vos aconteceu, é culpa tua! E depois, entras num gabinete novo, com um senhor doutor novo e um terapeuta novo, com ideias novas e correntes de pensamento novas (ou velhas, porque tu não tens que conhecer e identificar nada disso!). Repara numa coisa: tu não tens que saber qual a fase de desenvolvimento a que o teu filho pertence, se ele está atrasado e ninguém te a explicou antes. Vamos ser claras, nenhuma mãe tem que saber se o seu filho com alterações cognitivas, comportamentais ou motoras, com 5 anos, já devia subir escadas convenientemente, se ninguém teve o cuidado de se sentar com calma e lhe explicar isso! As mães não têm que de um modo inato saber isto. As mães são mães. Elas cuidam o melhor que sabem e podem, protegem e lutam pelos seus filhos, e não pode aparecer alguém, do alto da sua perfeição clínica e perguntar porque raio é que não acham anormal que o seu filho, que tem um atraso de desenvolvimento, não suba ainda escadas. Ou porque raio é que esta mãe só agora chega aquele gabinete para fazer aquela terapia. Ou porque raio é que esta mãe não esteve desperta para estes pormenores! Isto não pode acontecer! As mães não têm que ter olho clínico, só têm que estar bem rodeadas de quem os possui, para que possam apenas ter olhos de mãe! Será isto tão estranho de se compreender?

Mãe, tu fizeste tudo bem! O caminho ainda me parece longo, mas tenho a certeza que nunca equacionaste desistir a meio. Bate com essa porta e entra noutra que não te pergunte, à partida, quem é que vai entrar. Não deixes que te julguem nunca, porque eu sei, e tu também, que tu fizeste tudo bem! Respira, confia mais uma vez, e vai. A culpa não é tua!

Imagem retirada do Pinterest


CONVERSATION

0 comentários:

Postar um comentário

Back
to top