Tirei-lhe tudo...

Há alturas em que tenho a sensação que lhe tiramos tudo.
Tiramos-lhe todo o meu tempo, toda a minha atenção. Todos os nossos momentos a dois, todo o meu colo. Toda a paciência e toda a disponibilidade já não são dele. Toda a brincadeira e todos os momentos sérios também não.
Tenho a sensação que lhe tiramos o quarto, a cama e mais algumas mobílias. Os livros saíram da estante, os brinquedos do cesto e as rodas dos carros, essas foi ele que as tirou, há já algum tempo.
Às vezes acho que lhe tiramos o tudo, e que lhe devolvemos a metade. Uma metade incrementada, melhorada, afinada. E aquela metade que lhe tiramos, que lhe pertencia, deixa-me, com a sensação que foi direccionada à irmã.
E depois vejo-os juntos, tão diferentes e tão cúmplices. De olhares cheios de vida! E a culpa dissipa-se com a certeza de que ninguém ficou com o que não devia, que o que foi partilhado foi o necessário, e que acima de tudo, que cada um conquistou o seu lugar. Com todos os tudos que cada um tem, à sua maneira, com todas as partilhas que fazem, mesmo sem lhes serem impostas.
Às vezes, tenho a sensação que lhe tiramos metade e que lhe devolvi uma irmã, e que metades destas, valem muito mais que os todos e os tudos de uma vida.

Foto escura, desficada e antiga, mas que eu adoro!


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