Não me apetece ser politicamente correcta!


Isto de ser mãe e ser politicamente correcta tem muito que se lhe diga.
É suposto termos vontade de acordar de manhã, tomar duche e enfiar uma roupa qualquer para sair de casa. É o que dizem os livros. E os médicos. "Não andes todo o dia de pijama", é o que dizem os livros e os médicos.
É suposto termos visitas no hospital depois do parto. Parece que é para dar apoio e para ajudar.
É suposto termos vontade de abrir a porta às visitas depois dos dois primeiros meses. Até aos dois primeiros meses os livros dizem que as visitas podem esperar. As visitas são permitidas até essa altura, às pessoas mais próximas, avós, tios, amigos chegados. Dar a conhecer o bebé, parece que é esse o objectivo.
É suposto deixarmos que nos tragam comida, que nos façam a lida da casa, que façam compras. Os livros dizem que é para nos ajudarem, nos deixarem menos sobrecarregadas, mais relaxadas e menos preocupadas.
É suposto deixarmos que peguem no bebé, que tomem conta dele, que lhe troquem a fralda e que o adormeçam. Parece, segundo os livros, que ficamos com mais tempo para nós e que assim podemos ir fazer coisas de mulher. Outras coisas.
E quando não nos apetece nada disto? Quando o que nos apetece é fazer o contrário do que dizem os livros e não sermos politicamente correctas?
Não, não me apetece ter que me arranjar todas as manhãs e sair de casa, muitas vezes sem motivo para o fazer. Gosto de ficar no sofá, de pijama e manta nos pés, só a dar colo. Assim como não me apeteceu ter visitas no hospital. Queria não ter que contar os pormenores do parto a todas as pessoas que entravam, queria não ter que receber pessoas que até nem me faziam falta nenhuma. Queria estar só no namoro, a aproveitar aqueles momentos a três que iriam ser tão escassos. Não, também não me apeteceu visitas em casa durante os dois primeiros meses dos miúdos, assim como ainda não me apetece. É assim tão estranho? Gosto de não estar sempre a responder às mesmas perguntas, e chateia-me estar sempre a dizer que não preciso de nada, que a casa está um caco mas que não me incomoda, e que compro o que me vai fazendo falta, outro dia, ao meu tempo. Não me apetece que me arrumem coisas em sítios que eu nunca mais volto a encontrar e gosto de não estar sempre a ouvir os mesmos comentários desnecessários. Essencialmente gosto de convidar as pessoas a aparecerem, quando me apetece, quando o dia até deixa, e quando há disponibilidade. 
Não me apetece que me tirem os miúdos dos braços com a desculpa que vou estar o dia todo com eles. Ou com qualquer outra desculpa. Não me apetece nada. Não me apetece ficar sentada no sofá a olhar para a miúda a chorar, num colo que não é o do pai, a ser abanicada para ver se a conseguem adormecer. É que não me apetece mesmo nada. Será assim tão estranho?
E também não me apetece ter que ser politicamente correcta e dizer que afinal sair de manhã, todos os dias, só porque sim é um bálsamo para a alma. Que as pessoas podem aparecer sempre que lhes apetecer e ainda lhes agradecer, de sorriso rasgado, pelo detergente soft para a roupa que me trouxeram, porque sei lá, podia fazer falta. É difícil manter o sorriso e ouvir que a miúda chora porque tem fome ou porque a chucha não presta e ainda agradecer pelos conselhos. E é difícil ir aquela festa, porque vai estar toda a gente e porque fica bem ir também.
Não me apetece ser politicamente correcta. É que não me apetece mesmo nada, e isto parece ser uma coisa tão estranha.

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