O depósito dos nervos


Em criança, sempre que algum brinquedo provocava a discórdia entre mim e a minha irmã, a minha mãe, gentilmente, atirava-o para cima do telhado da garagem, que facilmente se conseguia ver da janela do nosso quarto. O objectivo era que, o brinquedo fosse alcançável à vista e inalcançável às mãos para que nos lembrassemos das maravilhas da partilha e da paz entre irmãos.
Não tendo um telhado de garagem à mão, cá por casa adaptou-se a ideia a um local que fosse alto o suficiente, com acesso visual adequado e à prova de mãozinhas pequenas.
O frigorífico cá de casa tem todas as funções que se desejam num frigorífico comum, mas há uma que me enche as medidas. Apelidei-a de "depósito dos nervos" e fica situada bem lá em cima, no seu topo. Está geralmente coberto de tralhas de toda a espécie, desde parafusos que ninguém sabe de onde são, bolachas de chocolate, barritas de chocolate e outras coisas de chocolate que as avozinhas, insistem em mandar cá para casa, e até listas de supermercado esquecidas. É também aqui que vou colocando aqueles brinquedos que dão nervos, sabem? Aqueles que ninguém devia oferecer, com músicas ou outros ruídos infindáveis, que na maioria das vezes não servem para nada a não ser para chatear. E os que peço para apanhar do chão, mil vezes e que ninguém apanha. E ainda aqueles que "ficam guardados" até que alguns comportamentos se ajustem. A única coisa de que tenho pena é que não se possa pôr lá também uma birra de sono, uma pouca vontade de cozinhar, ou uma neura qualquer... Enfim, até um bom topo de frigorífico tem as suas limitações!

Um dia ainda lhe arranjo umas prateleiras!

CONVERSATION

0 comentários:

Postar um comentário

Back
to top