O Gangue do balão.

Passo parte do meu dia em salas de espera de gabinetes, ora num sítio, ora noutro. Como eu, dezenas de outras mães passam pelo mesmo. Conhecemos-nos ali e dali. 
Talvez "conhecer" não seja a palavra mais correcta porque na verdade pouco sabemos umas das outras para além da distinção entre um olhar tranquilo, feliz ou angustiado. Não nos conhecemos, reconhecemos-nos.
Reconhecemos o olhar vítreo e aquela ruga de preocupação na primeira sessão de terapia. Reconhecemos os miúdos, o pai, a avó. Às vezes reconhecemos um tio ou uma amiga. Não lhes sabemos os nomes mas sabemos-lhes a força para soprar. Partilhamos as mesmas dúvidas, os mesmos desejos. Não partilhamos a família mas temos aquela sensação de pertença, como se o facto de nos cruzarmos todos os dias, no mesmo contexto nos unisse com um laço. Se não nos virmos num dia, perguntamos apenas a nós se estará tudo bem ou se terão apenas mudado a rotina. Preocupamos-nos. Somos um gangue silencioso. Pertencemos ao mundo umas das outras. E não há maior claque de apoio, mesmo sem alarido, quando nos apercebemos que mais uma etapa foi ultrapassada. Sem competição, sem lutas internas. Invade-nos aquele orgulho gordo, não por nós, por eles. Falamos pouco, não há tempo entre sessões, mas somos cúmplices, somos as mães. E as mães não podem ser de outra maneira. Estamos todas no mesmo balão.


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