E se eu não estivesse aqui?

Alguma vez se perguntaram como é que seria a vida de quem vos rodeia, se vocês deixassem de existir? Ultimamente tenho-me perguntado muito sobre isto e lembro-me de ter pensado bastante sobre isto também, nas vésperas do parto da miúda. 
Na altura, o meu medo era, "e como é que ele (o pai) se vai desenrascar?", "como é que as rotinas do miúdo vão ficar", "como é que ela se vai lembrar de mim?". 
Hoje o meu medo prende -se mais com toda a logística das nossas vidas, impensável, de gerir apenas com um adulto por perto. E também, como não, com o futuro.
Por cá, dos adultos, a batedora/exploradora sou eu. Eu não me calo, não desisto, estou na luta. Todos os dias. Vou na frente, procuro, invisto, insisto, retalio. O pai podia ter tirado o curso de tibetano tocador de taças. É uma espécie de buda da Mongólia, mas com cabelo. Dá apoio, mas na retaguarda. Nunca arrisca, e não é muito bom no ataque...
Partilho convosco, a carta que lhe escrevi, uns dias antes de ser mãe pela segunda vez, e que deixei na porta do frigorífico, na noite em que saimos todos apressados de casa, para ir conhecer a miúda... (continuo com as mesmas preocupações):

"Paulo:
Estamos a começar mais uma etapa das nossas vidas. Não tem sido pêra doce mas temos vivido tudo com muita intensidade e felicidade. Dizem que a chegada de outro filho faz aumentar o amor que o coração pode sentir e parece-me que nesse sentido está tudo bem encaminhado.
Nesta altura a Laura já deve ter nascido e espero que esteja bem, tal como a imaginamos nos últimos tempos. Sei que não deve ter cabelo amarelo mas acho que o Gui não se importa. Ele deve andar nervoso e tu também. 
Nestes dias, que devem ser difíceis, deixo-te umas orientações de mãe, de coração cheio e muito apertadinho:

1- vai dormir cedo; nós precisamos de ti fresco e dormir ajuda bastante;

2- não te deixes na preguiça no sofá. O Gui pode acordar e se não te encontrar no nosso quarto vai ficar assustado;

3- não te esqueças de pôr o despertador com tempo. É importante que a manhã seja fluída e sem pressão de tempo. Evita muitas birras;

4- quando tiveres coisas para fazer, faz listas; para não te esqueceres de nada e não estares a esforçar a memória sem razão;

5- presta atenção à roupa do Gui. Não lhe vistas nada sem jeito, curto ou com nódoas. Não te esqueças do casaco e do gorro, deve estar frio;

6- tira-lhe uma foto de manhã e manda-ma para o telemóvel. Vou morrer de saudades dele nestes dias;

7- pede ajuda se não estiveres a dar conta do recado. É capaz de não ser fácil;

8- se me acontecer alguma coisa que não esteja nos nossos planos, há mais umas coisas que preciso que faças:

   8.1- toma conta dos miúdos. Eles são o mais importante do mundo e vão precisar muito de ti;

   8.2- fala-lhes muito de mim e mostra-lhes muitas fotos. Não os deixes esquecerem-se de mim;

   8.3- dá-lhes sempre sopa, mesmo que já sejam crescidos! Precisam de comer legumes e as vitaminas fazem falta;

   8.4- ensina-os a partilhar e a brincarem juntos. Os irmãos são para a vida e vão precisar um do outro;

    8.5- ensina a Laura a gostar de livros. As histórias fazem bem à alma;

   8.6- canta muito para eles. Não és lá grande cantor mas eles vão gostar, e rir muito, de certeza.

Gosto muito de vocês. Gosto muito de ti. Espero estar em casa em breve para podermos estar todos juntos. Esperem por mim!
Beijinhos já com saudades, a mamã Cristiana."



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