Não escolhi o Alentejo

Fui estudar para o Alentejo e não levei nada para além de uma mala de viagem, um nó no estômago e uma lágrima no olho. Não levei expectativas, motivação, nem vontade de estar ou ficar. Não escolhi o Alentejo. Descobri, um tempo depois, que ele me tinha escolhido. 

Quando terminei o curso trouxe tudo o que o Alentejo me tinha oferecido, a mesma mala de viagem, um nó no estômago com o dobro do tamanho e muitas lágrimas contidas. Trouxe as suas gentes, todas as que me preencheram o coração durante o tempo que fiquei, e que ainda hoje, à sua maneira vão preenchendo. Trouxe o pai dos meus filhos, que embora não sendo alentejano, tive a sorte de encontrar por lá. Trouxe os sabores e os cheiros porque o Alentejo é mesmo assim, entranha-se na pele, invade o coração e molda a nossa alma ao seu ritmo. 

Memórias boas estas, as que tenho do Alentejo e outras tantas vou construindo sempre que por lá passo.

O Alentejo cheira-me a coentros, a hortelã da ribeira e a poejos. Alguma vez pararam para sentir o cheiro do pão alentejano? E também me cheira à terra e ao mar, sim, no Alentejo também cheira a mar.

Sabe-me sempre a azeitonas temperadas, a vinho tinto e queijo curado. E sabe a espargos, a oregãos, a linguiça e a sopa de tomate. E sabe a férias, a momentos em família e com muitos amigos, na rua, às 22h à fresquinha.

No alentejo ouvem-se os grilos, as estrelas têm mais brilho e o vento nas searas tem um canto especial. Há tempo para tudo, com calma, e vamos "num instantinho" a todo o lado. As pessoas sorriem com os olhos e abrem-nos as portas de casa ao passar, encantando-nos. 

Todos os anos, nem que seja por um bocadinho, voltamos ao Alentejo, ao nosso refúgio, ao que nos tranquiliza e faz tão bem. Este ano, a missão era deixar que o Alentejo se entranhasse na pele da miúda, como já se entranhou na nossa. Daqui a uns tempos saberemos se resultou!