A relação entre famílias, terapeutas e sapatos.

Há uns dias perguntaram-me qual a minha opinião/ajuda para melhorar a relação dos técnicos com as familias dos miúdos com perturbações do desenvolvimento, e eu falei em sapatos.

Os terapeutas/médicos chegam para trabalhar e vestem uma farda à qual juntam um par de sapatos para trabalhar. Num dia normal de trabalho, observam e interagem com dezenas de crianças e respectivas famílias. No final, desfardam-se, calçam os sapatos de rua e vão às suas vidas.
As crianças e suas famílias saem das sessões/consultas com os mesmos sapatos com que chegaram. Os mesmos que calçaram de manhã e os mesmos que tiram, quando tiram, assim que chegam a casa.
Não digo que andemos por aí a calçar os sapatos uns dos outros, mas se ali nas sessões, os sapatos fossem todos idênticos, acredito mesmo que as coisas fluiam que era uma maravilha. É que se os técnicos andam de ténis, práticos e fáceis de calçar e todos os caminhos lhes parecem trilháveis, a malta anda com os saltos altos do costume (que desiquilibram e fazem doer as pontas dos dedos) e assim, as caminhadas jamais poderão ser equitativas. Reparem que todos gostamos de uns sapatos confortáveis mas nem sempre estão a condizer com todas as fases da vida... e se todos experimentarmos percorrer os mesmos caminhos, um pouco que seja, com um par de sapatos idênticos, talvez os trilhos e as estratégias para os percorrer se tornassem mais perceptíveis e empáticos.

Se a metáfora ficou confusa? Talvez... Mas só para confundir ainda mais, reforço só que se os sapatos forem maleáveis, os pés ajustam-se. Mesmo que sejam espásticos. Mesmo que sejam hipotónicos. E mesmo que nem toquem no chão. Basta uma boa calçadeira, um par top e a música certa para dançar!


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