Nascer em época de pandemia

Um ano hoje.

Há um ano fui acordada com um "vamos lá?" e eu fui. Banho e desinfecção da ponta do cabelo até às unhas dos pés, duas vezes. Tricotomia de última hora porque afinal não estava bem feita. Jejum e muita, muita fome. Uma hora à porta do bloco, com o relógio de frente para a marquesa, não fosse algum minuto fugir-me. Aviso para casa que estou pronta e que dou notícias em breve. Mudo de roupa no corredor de acesso ao bloco. A equipa de enfermagem está animada e trocam-se conversas triviais. Ouço alguém trautear uma ária, mas não a reconheci.
Já no bloco, olá à anestesista, olá às obstetras. Alguém reclama porque está ali uma garrafa de água e não pode estar. Discutem-se protocolos frescos de covid. Entraram todos mas faltam processos e se sairem para os ir buscar têm que recomeçar a desinfecção. Está uma confusão. Fico nauseada com o ambiente. Sinto o primeiro corte, o segundo e os outros. Aumenta-se a anestesia. Vejo a Amélia pelo canto do olho e convenço-me que só a volto a ver daí a horas. A enfermeira voltou e colocou-a na mama. Terceiro filho, primeira experiência de mama nos primeiros minutos de vida. Fico nauseada, hipotensa e levam-na à pressa. Suturar. As obstetras não se entendem em relação à sutura. Vai de agrafes mesmo. Recobro. Pernas que não colaboram. Fico três vezes mais tempo do que o normal. Finalmente trazem-me a Amélia. Ouço o telefone do bloco de partos tocar. Ouço dizer que estou bem mas não podem dar mais informações. Não consigo falar com o pai nem com os miúdos. Sigo para o internamento duas horas depois e é com esta fotografia que apresento a Mel ao pai e aos manos. 


Ficou (quase) tudo bem ❤


1 ano de Mel



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