No dia em que formos nós outra vez

No dia em que voltarmos a ser nós vamos dormir até às 11h, fazer um brunch e voltar a dormir. Vamos comer pipocas ao jantar, e vamos decidir às 22h de sexta-feira, que o fim-de-semana será passado na outra ponta do país. Nesse dia, vamos voltar a ter lugar certo na mesa e o sofá sem uma única migalha de pão. Vamos comprar chocolates, aos quilos e a deixa-los ali à vista, na bancada da cozinha.
Quando voltarmos a ser nós, vou passar roupa 1x por semana (só) e achar que mesmo assim é muito. O frigorífico só vai ter sopa quando estivermos doentes e, quando isso acontecer, vamos poder ficar deitados, doentes, enrolados num cobertor, à espera que passe.
Quando voltarmos a ser nós, a banheira não vai estar cheia de brinquedos, e não vai haver outros tantos no chão da sala, do quarto e da cozinha. O corredor já não vai ter marcas de bolas nas paredes e, nas portas, já não vão estar desenhos pendurados. Nesse dia, podemos deixar de cantar, em segredo, todos os genéricos da bonecada que passa na tv, e talvez, quem sabe, deixar de ter o Canal Panda.
Quando voltarmos a ser nós, os Power Rangers vão perder audiência e vamos poder ver todos os filmes candidatos aos Óscares, desde 2012. Nesse dia, o sofá vai ser enorme e as almofadas não vão estar espalhadas pelo chão. Vamos ficar com quartos a mais e eu vou finalmente poder montar o meu atelier!
Quando voltarmos a ser nós, o carro vai deixar de ser uma loja da Toys r us ambulante e os bolsos dos meus casacos vão deixar de parecer uma incubadora de ganchos, laços e fitas. Vai haver silêncio e vou pôr, prometo, a minha leitura em dia.
Quando voltarmos a ser nós, vamos ficar felizes, tanto que nem sei descrever, por toda esta loucura que se apoderou das nossas vidas, e quando esse dia chegar, vamos passa-lo a relembrar todos os outros.
Foto de quando éramos só nós, muito antes de nos tornarmos o que somos hoje!





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